JOANA lembrou-se de repente, sem aviso prévio, dela mesma em pé no topo da escadaria. Muito provável mesmo que nunca tivesse vivido aquilo. (...) O cheiro das fazendas novas vestidas pelo homem que seria dela a atravessava, procurando distanciá-la do botão de rosa que insistentemente lhe comprimia as narinas, indecisas entre velhos e novos aromas, entre o que fora e o que passaria a ser, terminada a cerimônia.(Clarice Lispector - Perto do Coração Selvagem - Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986 - texto adaptado)
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Por meio do contraste de elementos olfativos (o cheiro das fazendas novas... versus o botão de rosa ... ), a cena reitera o seu caráter de predomínio de impressões subjetivas, com acréscimo de personagem (o marido) e clara referência ao significado afetivo da lembrança.
Exploração do paladar
JOANA lembrou-se de repente, sem aviso prévio, dela mesma em pé no topo da escadaria. Não sabia se alguma vez estivera no alto de uma escada, experimentando o bolo de noiva, cujo sabor não tinha consistência na sua memória. Se queria pensar nele não percebia na realidade gostos, porém uma massa insossa e volumosa, nadando de um lado para outro em sua boca, que naquele momento ansiava por sal, ou ao menos por um copo com água.(Clarice Lispector - Perto do Coração Selvagem - Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986 - texto adaptado)
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Agora, a presença do paladar se conjuga com o tato, para novamente enfatizar as sensações e os sentimentos de Joana, ao lembrar o que lhe aconteceu interiormente, no dia de seu casamento.
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